Hera senta-se no trono e olha a sua volta. Os filhos de Zeus, de seu ventre e do ventre de outras, estão chegando para mais um reunião dos Doze.
Ártemis, acompanhada da mãe, espera pela chegada do irmão. Atena, reclusa e pensativa, como sempre. Hermes, atrasado, provavelmente perdido em algum trabalho.
Ela vê Deméter chegando, trazendo a jovem Perséfone em seu carro. A rainha percorre os olhos pelo salão em busca do Orco. “Ainda não. Chegará ao último segundo, como de costume”.
Hebe está ali, sentada aos seus pés. Sempre sua dama de companhia. Do genro, Héracles, ela não sabe – e também não faz questão de saber. Ela vê Hefesto, seu primogênito, distribuindo presentes aos deuses, e sabe que não será uma das contempladas.
Mas a chegada de outro deus faz com que a Rainha esqueça dos outros filhos: o guerreiro que vem em direção ao trono de Zeus chama a atenção de todo o salão. Recém-chegado, Ares se ajoelha diante do pai, que levanta, abraça o filho e pergunta de suas últimas campanhas. Um ritual, dentre os vários que compõe o conselho dos olimpianos.
Apenas muito tempo depois, quando Deméter já tomou seu lugar e Apollo se juntou às duas mulheres que ama, Ares deixa o pai e vai até a mãe. Ela o recebe com um abraço caloroso e um beijo no rosto. “Meu filho”, pensa Hera, “nascido de um rei, para ser rei”. Ele retribui o abraço e termina a saudação com uma reverência.
- Toda honra à Senhora dos Céus.
- Agradeço a gentileza, meu menino.
Ares parte para encontrar Hebe, irmã querida, que já espera com água para que ele se lave e néctar para que mate a sede. Hera repara, ao longe, o olhar cobiçoso de Afrodite e sorri involuntariamente. “Daria uma bela rainha, minha nora. Pena que casou-se com o filho errado”.
Ela recosta-se no trono, aguardando os últimos chegarem, ainda pensando no belo rei que seu filho seria. E conclui que, se não fosse pelo detalhe da sucessão, viveria muito bem entre as outras esposas de Zeus. Ela não desmerece Leto, assim como não desmereceu Sêmele, nem qualquer outra que tenha se deitado com seu marido. Cada uma tem lá seus encantos. Mas elas precisavam engravidar de meninos? Por que não tiveram meninas, como Deméter ou Leda? O curso da vida dos deuses seria muito mais tranqüilo se as outras esposas de Zeus percebessem que seu filho, o general, é o único capaz de assumir as funções do pai.
O marido toca-lhe o braço e pede sua atenção. Hermes está a postos, os Doze estão em seus lugares. O Conselho vai começar.
Imagem de teenyxtinyxtina
5 comentários:
Será que, por Perséfone não entrar na sucessão, Hera a deixou em paz?
Mesmo sendo filha de Apollo, presto meus respeitos. Toda honra à Senhora do Céu!
A questão da sucessão não é a rainha, mas o rei. Se pensarmos no Olimpo como um genos patriarcal, Hera quer seu filho no comando para garantir, também a ela, um título de muita honra, o de rainha mãe.
faz sentido... nunca tinha pensado nisso.
E mais sentido ainda com aqeuele lance sobre a sucessão caçula e o tanto que ela perseguiu Dionísio. Por ter sido Zeus e Chronos os últimos a nascer.
Sabe que quase consegui ver esse filminho enquanto lia o texto? Adorei...
E PS: Acho que Hermes chega atrasado pq resolve aproveitar o percurso devolta pra casa para fazer umas três coisas ao mesmo tempo, já que vai passar "perto" ou "em frente" de onde ficou suas pendências a resolver, no caminho de tantos trabalhos... hehehehehehehehehe
E sim... ele toma seu posto na hora de início do Conselho: além de mensageiro, ele tb é o Arauto da Família!
=)
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