sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O Arqueiro

O Longíncuo prepara o arco. Posiciona a flecha. Tensiosa. Mira. Solta.

Mais um filho de Níobe é abatido. O último.

Ele olha para a irmã. Os letóides não precisam de palavras para se entender. Em um instante, ambos desaparecem das vistas mortais - que se desesperam pela perda de tantos príncipes e princesas. Ártemis vai direto ao encontro da mãe, para reportar-lhe sobre a vingança aplicada aos niobidas. Apollo retorna, sozinho, a Delfos.

Em seus domínios, o deus se lava nas fontes sagradas: não suporta o cheiro de sangue humano impregnado nas suas narinas, mesmo que o líqüido não tenha atingido seu corpo. Dizem que ele sente nojo das pessoas e, por conta desse fator, evita aproximar-se. Mas quem fala dessa forma não percebe que a sujeira e a morte não são parte da sua distante natureza. O deus evita esses fatores e, por conseqüência, quem os traz de forma mais marcante: os seres mortais.

Arqueiros, ensina a sabedoria de Delfos, não têm contato com a carne que apodrece. Eles alvejam os inimigos do alto das muralhas, como ele acabou de fazer. "Sujo de Sangue" é um nome que não pertence a esses soldados. A Infantaria e a Cavalaria existem em outros domínios.

Limpo, o profeta de Zeus coloca uma nova coroa de louros recém-colhidos. Senta-se à sombra das árvores, com a lira em uma das mãos, substituindo o arco prateado. As musas, percebendo o momento propício, aproximam-se com canto e dança. O deus fecha os olhos e sorri, em um de seus não raros momentos de contemplação. Sentado no templo, cuidado por suas companheiras e sacerdotes, Apollo descansa de sua ira calculada e passageira.

Imagem de Roy Mahon, "Archer in Desert"