quinta-feira, 30 de julho de 2009

Hino Órfico à Thethys


Eu lhe chamo Tethys dos olhos de azulado brilho, que se escondem dos humanos por trás de um véu de obscuridade;

Grande imperatriz do Oceano, que vaga pelas profundezas e que molha a terra com sua brisa suave;

Aquela para a qual as ondas abençoadas seguem em sucessão, batendo nos rochedos em um fluxo sem fim:

Deliciando-se no mar sereno a brincar, nos navios que exultam pelo caminho molhado.

Mãe da Cípria e das nuvens obscuras, grande cuidadora das bestas e doadora das fontes de água pura.

Ó venerável Deusa, ouça minha prece e traga a benevolência à minha vida;

Envie, rainha abençoada, aos navios a próspera brisa, e os traga seguros pelos mares tormentosos.


Hino publicado em inglês no Theoi Project.
Tradução livre.
Imagem de waver-h

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Escuro

Ele está sentado no chão. Veste-se inteiro de preto. Sua cabeça esconde-se, coberta com um lenço grosso, deixando o rosto na penumbra.

A recém-iniciada segura a saia e se ajeita ao lado do Escuro, como se fossem velhos amigos. Seu vestido traz as cores de Deméter e os cabelos desalinhados ainda trazem as evidências de terem portado a coroa de trigo da deusa.

No breu à volta deles, ela treme. O medo a domina e ela não entende a razão. O Senhor dos Mortos nunca lhe causou nenhum mal. Pelo contrário, ela só tem a agradecer ao Muito Rico por tudo o que Ele já fez em sua vida.

Ele se vira, bruscamente, e o rosto do Deus está a centímetros do nariz da garota. Mas onde deveria haver olhos, existem dois buracos. No lugar da carne azulada e fria de Hades, o deus mostra ossos. Um crânio, seco e vleho, a olha do véu escuro do Soberano do Submundo.

O medo do desconhecido a toma por inteiro, mas ela não consegue gritar.

Imagem de NathanRosario

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Mensageiro

De riso fácil e cheio de galanteios, Hermes tem passagem livre por todos os cantos. Não há Deus que não dê abrigo ao mensageiro, assim como não há homem que não tenha prestado reverência ao Senhor do Caminhos.

Com seu saco de correspondências e sua capa de viagem, ele transita por todas as partes, parando aqui para deixar um recado, ali para elogiar uma ninfa e do outro lado para enganar um viajante. Hermes, de asas nos pés, consegue dobrar a austeridade de Apollo com o mesmo traquejo que vai ao Hades levando as almas de encontro ao Rei dos Mortos e à Sua Rainha.

Mas, acima de tudo, Hermes é o mensageiro de Zeus. Sem ele, não haveria a comunicação entre deuses e homens. E se os homens não ouvem as vozes dos deuses, a culpa não é dele. Os humanos é que não se dão ao trabalho de perceber que os imortais sempre respondem.

E se não o fizerem, o mensageiro trata logo de inventar alguma ladainha para não decepcionar o pedinte. Afinal, seu alimento é o deboche, como ele diz, e sua natureza não o faria perder a oportunidade de exercitar essa arte.

Imagem de h_savill no Flickr.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

das Filhas de Rhea


























Se os três filhos de Cronos representam o domínio dos monarcas, as três filhas de Rhea nasceram com outro tipo de poder.

Sutil. Escondido. Feminino.

Sentadas no conselho do Olimpo, tecendo juntas em momentos doméstico ou formando a bela figura em banquetes, esse é o papel das filhas: não mandam, mas se sentam ao lado de quem o faz.

Ainda tem seu lugar no Conselho a matrona entre as matronas, Héstia. Mesmo tendo cedido o posto de Olimpiana ao sobrinho Dionísio, ela ainda guarda um lugar de honra. Parece mais velha do que a própria mãe, sentada silenciosa. Ela não se mostra cheia de jóias, nem é trazida aos salões pelo braço de um deus como suas irmãs. Não permitiu que nenhum deles o fizesse, e Zeus não desrespeitou sua vontade. Afinal, esse é seu papel: a união do genos diante da lareira do Olimpo.

Há alguns acentos do Pater, senta-se Deméter, medida entre a serenidade da mais velha e a impetuosidade da irmã subsequente. É mãe sem ser esposa. É rainha sem ter coroa. Os deuses sabem que não é bom perturbá-la e suas maneiras severas são famosas entre os irmãos e sobrinhos e reclamadas sempre que necessário. Não raro, se deixa levar pelos braços do neto três vezes nascido, já que o casamento não é seu território: prefere os filhos - e o doce isolamento entre os humanos.

A caçula entre as mulheres, Senhora do Olimpo, fica ao lado do Rei. Não seria diferente, já que na família o quinhão de Hera é ser esposa. Mais do que mãe, mais do que irmã, ela é a coroa que adorna a cabeça de Zeus, a deusa emplumada que resplande ao seu lado. E graças a Ela, outros casamentos essenciais ao universo se configuram - Perséfone e Hades, Posseidon e Anfitrite, Hércules e Hebe, Afrodite e Hesfesto.

E assim as três participam das grandes decisões. E enquanto eles conversam, as outras gerações, olhando os seis Crônidas, sabem que é ali que reside todo o poder da nova geração de deuses. E que sem um deles, há o desequilíbrio, a fome, a tempestade, o maremoto, a desunião e a morte.

Imagem de andyparkat.