quarta-feira, 3 de junho de 2009

Branco


Andávamos na beira, naquele ponto da praia em que as ondas quebram deixando restos de conchas e outras coisas que o mar dispensa. Eu pensava na vida. Ele segurava minha mão e caminhava apressado. Depois de um curto silêncio, me faz uma pergunta mais do que inesperada:


- Mas como é que que Ela nasce?

A "Ela" da frase é Afrodite.

Ele é a própria figura da deusa, aparecendo como um presente enviado pela Dourada. Ele traz na sua formação sombra e luta, permeadas do perfume das orquídeas, planta consagrada a Urano, cujo membro decepado fez a deusa surgir do mar.

É essa a história que conto, enquanto caminhamos pela areia.

Falo da minha versão preferida, a registrada por Hesíodo - inspirada pelas musas, transmitida pelo povo, como gosto de lembrar para mim mesa. Sob o céu escuro de chuva, conto como Cronos, com sua foice em curva, amputou o pênis de Urano. Falo, ainda, do pênis caindo nas ondas e ejaculando seu sêmen sobre a espuma. Imagino a subida de Afrodite nesse momento, de sua criação na mistura dos brancos, ao mesmo tempo em que, ao seu lado, Nêmesis surge do vermelho sangue. Em todo seu esplendor, a Citeréia é levada em uma concha para a ilha mais próxima, acolhida pelas Graças e por Eros, compondo assim um cortejo de beleza, de doçura e de amargor.

As ondas quebram nos nosso pés. Ele olha para o horizonte. Eu digo que existe outra história, a de que Ela seria filha de Zeus e Dione, a imagem feminina do Tonante.

- Mas isso não é verdade.
- Como você sabe?
- Zeus me contou um dia desses.

Imagem de Noel back in Zurich.
Retirado do Flickr.

p.s.: O Blogger está com problema. Por isso o texto desta postagem pode aparecer com mais de uma fonte.

3 comentários:

Unknown disse...

Zeus me contou... Adoro!

Cassia disse...

essa moça ainda é um mistério pra mim!

Carol Carvalho (Carol Yara) disse...

Nem preciso dizer como suspiro esse momento de fecundação da Citeréia... Arrasou!